Ok, parece estranho o título, não é? Mas deixa-me tentar explicar e talvez isto te faça sentido – espero eu!
Fomos convidados pelo município da Lourinhã para dinamizar um evento para as famílias do concelho, no âmbito das V Jornadas da Educação daquele território, que este ano tiveram o sugestivo mote: desconectar para reconectar.
Preparámos duas das nossas “oficinas”, o “Play Day” e o “Laboratório Baú do Brincar” e lá fomos, no sábado passado, com uma equipa repleta de Guardiões do Brincar profissionais e muitas malas cheias de materiais e jogos, daqueles que sabemos que convidam a explorar, a questionar e dar vontade de interagir e criar.
Já há algum tempo que não dinamizávamos um evento com esta dimensão e a Lourinhã era um território com quem nunca tínhamos trabalho; por isso, fomos algo… expectantes.
Não é fácil explicar o que são estas oficinas; ou melhor, não é fácil, para mim, descrever eloquentemente o sentimento que gira em torno do que se passa nestas oficinas, porque sempre que desenhamos um evento destes, não são as “atividades” que nos preocupam, mas sim o que os miúdos e graúdos podem tirar delas. Ou seja, posso descrever aqui as atividades; posso até partilhar fotografias e vídeos; mas o que se sente, num parque cheio de miúdos e graúdos que brincam, saltitam, procuram, criam, riem… é difícil abarcar numa publicação digital. Por isso lembrei-me: como é que uma “Inteligência Artificial” descreveria a tarde que passámos à volta do Play Day e do Laboratório Baú do Brincar – sem aquelas interferências do sistema límbico que teimam em deixar-me emocionado sempre que escrevo sobre este assunto?
Fica desde já o desafio: se algum participante nestas oficinas ler esta “carta”, por favor comente se o texto se aproxima de alguma forma à realidade. Aqui fica a sugestão ?da/ do? Gemini (o prompt que utilizei foi: “escreve uma carta duma menina para a sua avó (…)”; listei previamente as atividades que realizámos; no final adaptei o texto para português europeu):
“Querida Avó,
Estou a escrever-te esta carta toda animada para te contar sobre um dia incrível que passei! Fomos a um parque enorme, onde tinha um monte de coisas para fazer. Foi tão divertido que nem parece que foi ontem!
Conheci duas meninas muito fixes e explorámos tudo juntas. Achámos folhas coloridas, pedras brilhantes e galhos de árvores que pareciam mágicos. Com um barro especial, fizemos uma estátua bem bonita, juntando tudo o que encontrámos. Depois, usámos a estátua para decorar um castelo que construímos com uns blocos de madeira gigantes que tinham lá para nós utilizarmos! O meu irmão estava a fazer um percurso incrível para berlindes, e acabámos por usar uma parte da construção dele como uma muralha. Foi muito divertido ver os berlindes a deslizar bem rápido!
Outras meninas mais novas pediram para brincar no nosso castelo e nós deixámos. Elas tinham feito bolos de lama para os bonequinhos que tínhamos feito com o barro. Depois, fui com as minhas novas amigas ver outras coisas que havia para fazer. O meu irmão ficou ocupado a construir carrinhos de madeira.
Brincámos com tantas coisas! Jogámos com raquetes, jogámos ao chinquilho e até fizemos um circo! Havia uma corda bem comprida e nós tínhamos que andar em cima dela sem cair. Parecia que estávamos no circo! O pai e a minha mãe fizeram uma corrida de sacos com outros adultos e a mãe ensinou-me a saltar à corda e a jogar ao elástico. Ela disse que tu eras muito boa nesses jogos quando era mais nova. É verdade? Um senhor muito simpático ensinou-nos a brincar com um pião diferente, que girava com uma corda. Nunca tinha visto um igual!
Quando chegou a hora de ir embora, eu estava muito cansada, mas feliz. As minhas novas amigas fizeram um desenho nosso no castelo e deram-me de presente. Éramos nós três, bem felizes!
Queria que a avó tivesse estado lá comigo. Tenho certeza que ias adorar tudo!
Um beijo bem grande”
P.S.: Desta vez decidimos pedir aos participantes e à organização que nos desse algum retorno sobre como viveram o evento. Os resultados foram ainda mais entusiasmantes do que esperávamos. Para além da satisfação geral descrita, segundo os participantes, 100% quer voltar ao espaço do evento para o aproveitar em família; 67% dos adultos conheceram e/ ou interagiram com outros adultos para além da sua família; 67% das crianças fizeram novas amizades; e 86% dos adultos manifestaram o desejo de realizar mais atividades na rua/ natureza.
Estes dados demonstram a importância do brincar livre e do contacto com a natureza para o desenvolvimento das crianças e para o bem-estar e coesão de toda a comunidade, valores que pautam a missão do Brincar de Rua desde a sua criação. Ao proporcionar espaços seguros e estimulantes para a brincadeira, estamos a investir no futuro das nossas crianças, promovendo a sua saúde física e mental, a sua criatividade e a sua capacidade de socialização.
Para saber mais sobre as oficinas Brincar de Rua, entre em contacto com a equipa.
Fotos (e mais) das oficinas disponíveis aqui:
Artigo escrito por Francisco Lontro, coordenador do programa Brincar de Rua Comunitário.
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