Na década de 1990 estreou em Portugal, na então TV2, uma série de desenhos animados épica, que trazia para o pequeno ecrã as aventuras de uma turma com uma professora, digamos que… pouco “ortodoxa”, que com a ajuda de uma uma carrinha, digamos que… especial, fazia de cada visita de estudo o momento mais fantástico e marcante das suas vidas. Os sortudos alunos da professora “Frizadinha” (Ms. Frizzle) visitaram desertos, rios, oceanos e vulcões, numa busca incrível pelo conhecimento, que mais não era do que a “solução” para um qualquer desafio ou problema que surgia na vida de um dos alunos da turma – a “Carrinha Mágica” tinha sempre uma solução, que envolvia encolher, explodir, viajar, construir ou qualquer outro conjunto de tarefas desafiantes e deliciosas.
Os miúdos/ espectadores, grudados ao ecrã e às aventuras vividas por esta turma, eram confrontados com curiosidades e explicações simples e acessíveis sobre a forma como grande parte dos fenómenos naturais na Terra (e até fora dela) se organizam para possibilitar Vida e Beleza (de notar que os conteúdos, apesar de simplificados, tinham fundamentação científica).
Eu não tive a sorte de me cruzar com a epopeia das primeiras quatro séries (já era um adolescente por aquela altura), mas, felizmente, em 2017 a Netflix decidiu voltar colocar a Carrinha na estrada, com uma nova série de episódios que recuperam o espírito de aventura, deslumbramento e fomento do conhecimento com as mãos na massa (de vez em quando passa também no ZigZag, da RTP).
Como já percebeu eu tenho um fascínio por esta série, que vejo, sempre que posso, com o meu filho (facto curioso: foi ele que sugeriu que a víssemos e não o contrário) – pela diversidade das personagens, pelas histórias mirabolantes, pelas palermices e as pequenas grandes coisas que nos fazem rir e pensar! Mas acho que gosto da série sobretudo pelo sonho, pela utopia que carrega consigo: uma escola sempre desafiante (física, cognitiva e socioemocionalmente), em que o conhecimento é muito mais uma necessidade e uma aventura, e muito menos um currículo com uma imposição clara: é isto e assim que tens que aprender!
A Carrinha Mágica traz consigo uma professora que faz mais perguntas do que dá respostas; um ambiente de constante desafio e experiência (mãos na massa) em que o erro é bem-vindo e uma oportunidade de aprender mais (nesta nova série há um episódio inteiro só sobre isto!); um fascínio constante pela beleza do Universo, em todas as pequenas coisas que acontecem e que têm um potencial imenso de serem significativas, não para os adultos, mas para as crianças, que estão a aprender a observar e a questionar; e, finalmente, uma aula que não tem um plano rígido, mas que parte justamente de um tema intrigante/ deslumbrante ou de um projeto das crianças para encontrar a beleza e o desafio do conhecimento.
Estas são quatro características que considero fundamentais para ter uma escola que acolhe, escuta, ensina e (se) desafia; respeitando a individualidade, cultivando a comunidade e desafiando todos (crianças e adultos) a serem cada vez mais atentos (sensíveis à beleza da “engenharia da Vida”) e criativos (com capacidade de (co)criar soluções para os problemas do dia-a-dia ou novas ferramentas para o futuro).
É essa a missão que perseguimos no programa “Brincar de Rua Escolas” (Atividade de Enriquecimento Curricular, complementar ao ensino regular no 1º ciclo do ensino básico) e que queremos generalizar com o projeto Laboratório Baú do Brincar. Prestando atenção ao espaço exterior da escola, à Natureza, à sua beleza e desafios que coloca; brincando (amadurecendo a relação entre imaginação, competências pessoais, desafios e competências sociais); procurando soluções para os problemas/ desafios do dia-a-dia – procuramos que as crianças desenvolvam o apetite por saber mais, fazer mais e celebrar mais.
Crianças sempre a rir; adultos com reações, desafios e respostas perfeitas; e salas de aula com recursos inesgotáveis (ou com uma Carrinha Mágica que se transforma em tudo e mais alguma coisa para facilitar um processo de aprendizagem)… pertencem obviamente ao reino dos desenhos animados (bons… daqueles que fazem sonhar, mas que sabemos impossíveis na vida real e complexa). Mas no “chão de escola”, nós, Educadores temos a responsabilidade de utilizar todos os nossos recursos para tentar cumprir o potencial imenso que cada criança tem de tornar a vida neste planeta sempre melhor.
Para saber mais sobre o programa Brincar de Rua Escolas e sobre o projeto Laboratório Baú do Brincar, clique aqui.
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