Formação de Guardiões: estamos prontos para começar a brincar

Fez-se história. Entraram naquelas 2 salas, com alguns dias de interregno, 63 pessoas com vontade de mudar o mundo e saíram especiais Guardiões, prontos a semear o brincar. Aos que, no início desta viagem, duvidavam se existiam pessoas que comprariam bilhete para serem agentes de mudança, dizemos agora que os há. Que há bem mais por aí. Dos que sonham, acreditam e querem mudar connosco.
E deixem-nos dizer: Que bom que é!

 

Formação de Guardiões do Brincar

O dia começara cedo, naquela sala de chão acastanhado, em toques modernos. O Centro de Inovação da Mouraria aguardava ansiosamente a chegada daqueles super-heróis do brincar. Uma semana depois, tendo como palco uma sala na ESECS (Escola Superior Educação e Ciências Sociais), o cenário repetia-se. Os ponteiros do relógio apontavam as 9h15, quando estes super-heróis se faziam notar. Chegavam em grupo em jeito descontraído ou de forma mais tímida, amparados por um café, mas todos movidos da mesma armadura de quem está disposto a mudar o mundo.

Já sentados e em plateia, os olhares atentos e curiosos tentavam adivinhar o que ali era esperado viver. Em jeito de saudação inicial, ao som dos “Deolinda”, demos as boas-vindas entre olás e abraços calorosos a todos os que decidiram “sair de casa e vir connosco para a rua” porque “por mais vidas que se ganhem” é a nossa “que mais perde se não viermos”.

Mas brincar é coisa séria e havia coisas sérias a discutir, sem demora…

“Porque é que os miúdos já não brincam na rua?”
“Porque é que é importante os miúdos de hoje brincarem?”
“O que é que o meu brincar fez por mim?”

O burburinho que se fazia ouvir denunciava a inquietação sobre estes temas. Quem estava de fora constatou que em uníssono, a pés juntos, se inspirava naquela sala a vontade de entregar às crianças de hoje, também, a infância que havia sido deles.

Alguns acompanhados de chá – que bonita forma de se aquecer a alma – e outros de caderno na mão, todos se alinhavam com o coração para proporcionar às crianças a oportunidade de brincarem na rua. De brincarem novamente na rua.

Algo mudou…

Não para melhor, mas naquela sala estavam agentes de mudança. E dos bons. Daqueles que gostam de brincar e que decidiram sair do sofá.  Aqueles metros quadrados eram apenas testemunhas de que ali, juntos, nos inspirávamos, afinávamos pormenores do programa e planeávamos semear o brincar, mais e mais além, para o fazer voar nesta e noutra comunidade. E o Brincar de Rua voou, literalmente, a bordo de 7 grandes aviões (de papel) que, ao comando dos futuros Guardiões, ligaram os motores a toda a velocidade e prometeram só parar quando atingirmos outras altitudes.

Depois deste voo, sentámo-nos confortavelmente, apertámos os cintos para se fazer ouvir a tripulação experiente de cockpit – as super Guardiãs do Brincar Sílvia e Susana -, gente que já fez aterragem em terreno fértil do brincar, com check-in semanal em muitas brincadeiras de rua.

Na parte da tarde, fizemos escala na zona mágica do bairro…

Aqueles sítios na zona onde moramos que nos transportam para o imaginário do brincar, sabem? Só tínhamos de decidir qual o destino perfeito para gastar todas as milhas de brincadeira. Depois aterrámos nos procedimentos do brincar, resolvemos as nossas ansiedades e preocupações e tcharan…. hora de brincar!

A brincar todo o tempo conta. Mesmo quando somos já crescidos. Por isso, decidimos voar a grande velocidade até à rua para brincar. A quê? A tanta e outra coisa que fizeram parte da nossa infância. Eram os sorrisos, assinalados em rostos que, em tempos, marcavam feições de criança, que evidenciavam o que ali estávamos a fazer: a ser felizes.

Regressámos… viemos jurar compromisso

Jurámos em uníssono que defenderíamos sempre o direito de brincar, em dia mais triste ou contente, na comunidade e mais além, no presente e mais à frente, até que todas as crianças tenham oportunidade de brincar livremente. Marcámos em papel o compromisso que havíamos marcado já no coração e, no final, com a entrega do Kit do Guardião, sentimos que acabáramos de celebrar o casamento perfeito.

Os ponteiros do relógio batiam acelerados nas 18h30, quando estes super-heróis se começavam a afastar em jeito de despedida. Alguns com viagens curtas de regresso, outros vindos de lá longe, de malas e bagagens carregadas, mas todos carregavam um sorriso que prometia comunidades mais brincadoras, saudáveis e felizes.

Fosse em Ílhavo, Lisboa, Peniche, Pombal ou Figueira da Foz, o brincar ia começar a ganhar voz; fosse em Coimbra, Leiria, Porto de Mós, Fátima ou Tomar, estávamos mais perto de promover o acesso a tempos e espaços de brincar; fosse em Águeda, Gafanha da Nazaré, Torres Novas ou Fundão, o reforço das relações de vizinhança e comunidade eram a nossa missão; fosse em Alcobaça, Ourém, Abrantes ou Aveiro, desejávamos que, mesmo antes da escola e dos trabalhos de casa, o brincar viesse em primeiro; fosse em Torres Vedras, Maia, Marinha Grande ou Covilhã, queríamos que a infância de “hoje”, levasse a melhores adultos de “amanhã”.

Obrigado a todos os Guardiões e Guardiãs do Brincar.
Não poderia ter sido mais especial.

 

O programa Brincar de Rua é promovido pela Ludotempo – Associação de Promoção do Brincar e cofinanciado pelo POI SE, Portugal Inovação Social e UEFA Foundation for Children. A intervenção do Brincar de Rua em Lisboa é também cofinanciada pelo programa BIP-ZIP (Câmara Municipal de Lisboa), no âmbito do projeto Brincapé. A formação em Leiria contou com o apoio do Pingo Doce. Um agradecimento especial à ESECS e ao Centro de Inovação da Mouraria pelo espaço e acolhimento.

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